terça-feira, 8 de março de 2016

Cidade Cinza

Hoje eu acordei de olhei pro céu. Reparei que ele estava cinza, o de sempre. Nem me importei muito de início, era apenas mais um dia que se iniciava. Mas um dia comum, na grande cidade cinza. Cidade essa, conhecida assim acho que apenas por mim. Pros outros é a terra da garoa, pra mim, é cinza. Tudo é cinza. Os prédios, as casas, as pessoas.

 Ah, as pessoas. Pessoas todas engravatadas, de cara fechada, imersas em seus mundos, resolvendo tudo através do celular. Pessoas, sérias, que não riem, não dão bom dia, estão sempre quietas, e que, quando vêem alguém diferente, alguém que sorri, estranham. Até os vendedores ambulantes são frios, falam logo o que estão vendendo, esboçam um pequeno sorriso e são ignorados completamente pelos engravatados.

Cidade cinza, cidade dos engravatados antissociais. É isso que a  tão grande São Paulo é. Uma cidade assim.

Era nisso que pensava enquanto olhava pela janela do meu pequeno apartamento alugado, me arrumando para mais um dia tipico de trabalho. Dias rotineiros, dias típicos, dias tradicionais na cidade cinza. Saio de casa e vou para o ponto, esperar o ônibus.

Ônibus esse, que demora uma eternidade pra passar e que, quando passa, vem lotado, estrundado, mal dá pra você entrar. Ai, você tem que se espremer e entrar num lugar parecido com uma lata de sardinha. Fica lá, soando, esperando chegar o seu ponto e quando chega, ora veja! Mais pessoas de cara fechada, mais gente esperando a sua hora de pegar o ônibus, indo pra correria.

São Paulo também é a cidade da correria, todo mundo sempre com pressa, sempre apressado. Tudo tem que ser rápido pro tal paulistano acelerado.

Chego no trabalho e ainda pesando nesse assunto, passo a observar as pessoas da empresa. Todos quietos, no elevador ninguém se fala, apenas talvez um "bom dia" bem frio, talvez aconteça alguns papos vagos com quem você tem mais intimidade, mas depois disso o silêncio.

Silêncio esse, que é ilusório.  Em São Paulo sempre tem algum barulho, carros passando, aviões, buzinas, xingamentos, chefe gritando, e trânsito. Muito trânsito. São Paulo é a cidade do trânsito.

Estou tranquilo, fechado em meu escritório, ouvindo os barulhos externos quando passa pela porta a pequena secretária, me informando a única coisa que eu não esperava, minha mulher estava grávida! Ah, ai eu quebrei minha fachada de engravatado e sorri. Mas sorri mesmo, com vontade, como a muito tempo não sorria. Sai do trabalho e fui para casa, sorrindo, era inevitável eu não conseguia parar de sorrir.

Cheguei em casa e abraçei minha mulher, lhe beijei a testa e barriga e disse o quanto estava feliz. Era um sorriso no rosto dos dois. Jantamos e conversamos sobre coisas da nova criança, depois fomos nos arrumar para dormir.

Voltei a pensar na cidade cinza. Meu filho cresceria no meio dos engravatados, no meio da grande cidade cinza, seria mais um igual a tantos outros e seguiria uma tradição. Ou não, eu não ia deixar que ele fosse assim, meu filho iria longe e não seria engravatado, seria o que ele quisesse ser.

Me deitei na cama, sonhando com minha criança e a cidade cinza.

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